11/09/2008

Diários de um sintoma inadaptado: Hiato

Tenho..
Cara..
Dorida..
A pressão é muita. A pressão? Mas o que é isto?
O meu nariz?
Já não sinto nariz.
Abre os olhos.
Abre os olhos.
Merda! Tenta abrir os olhos! Os olhos estão inchados e a pouca luz que vêem parece vermelha. È vermelha. Ou parece. Ou não!
Estou em pânico! O que é que se passa? Porque não consigo abrir os olhos?
E que sabor é este na boca que, também já não sinto?
Tenho a língua confusa.
Tenho a mente confusa.
Estou confuso!
Este sabor que agora quase me engasga.. Eu conheço..
Mas agora não me agrada.
Isto é sangue!
Isto é o meu sangue!
Porra!! Esta merda é o meu sangue!
Tenho a cara feita em iscas..
A visão está turva. Audição acompanha. Não percas os sentidos sem perceberes antes quem te está a dar a sova da tua vida.
Ok parou. Tosse sangue. Respira fundo. Tenta olhar para cima. Não vale a pena. Alguém já te levantou a cabeça pelos cabelos.
Tenta agora abrir os olhos. Já está um pouco mais fácil agora que não chovem murros.
É homem.
Foda-se que é grande! E os punhos dele, confirma, são bem mais duros que a minha cara!
E há mais dois bocados de carne atrás dele.
Respira fundo.
Respira fundo. Cospe sangue.
Isto não está bom. Nada bom.
Como é que passei de caçador a presa?
Filhos da puta!
Tenta abrir os olhos para te lembrares deles. Força.
O grandalhão vou-me lembrar dele, nem que o paneleiro esteja vestido de Sapo num festival de musica. Tem cara de segurança de discoteca mas com óculos. De resto é careca, olhos grandes e uma cabeça enorme. Vou-me lembrar de ti cabrão!
E tu? Chegaste á frente para berrar o quê? Não olho mais para ti sequer?
Não me continues a perguntar se estou a olhar, otário! Pensa!
Tenho memória fotográfica o suficiente para guardar a tua cara também.
És magro e alto. Ainda por cima também usas óculos. Vou-te encontrar também. E vais ter o privilégio de me explicar, in loco, a sensação de ter um ferro de engomar a aquecer nessa barriga de pele e osso. Desde o principio. Frio e a aquecer.
É deixá-lo ir. Intestinos abaixo! Pensar nisto acalma-me as zonas doridas do corpo. Pensa nisso também enquanto gozas esta superioridade momêntania.
Acalma-te.
Tenta respirar fundo outra vez. Acalma-te.
Cospe sangue.
Merda. Não sinto o corpo. Estou farto de levar porrada.
Já devo estar aqui há meia hora a encher a marmita.
Mas não me lembro como cheguei a isto porquê?
E não consigo ver o terceiro! Nada. Um vulto. Está muito escuro para perceber. Mas pelos vistos não está muito escuro para sentir. Este pontapé que levei nos tomates senti! E foi do terceiro elemento. Ou terceira elementa. Parece. Pois.
Cospe sangue mais uma vez.
É uma gaja! Vou tentar olhar para ela se a dor nos tomates me deixar abrir os olhos.
Não. Outro pontapé não. A dor nos tomates passou dos olhos para os ouvidos também.
Como? Não volto a quê?
Os teus irmãos o quê?
Ui.
Taco de madeira, porque…?

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